Calor extremo na saúde dos trabalhadores
Especialistas discutem estratégias contra as consequências do calor extremo na saúde dos trabalhadores
Especialistas da Rede OSH (Occupational Safety and Health), se reuniram na segunda-feira (22), no Centro de Eventos, em Fortaleza, para discutir estratégias de enfrentamento aos efeitos do estresse térmico na saúde dos trabalhadores.
O encontro faz parte da agenda de reuniões paralelas à Reunião Técnica sobre Emprego do G20 Brasil, com início nesta terça-feira (23), sob a coordenação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
A Rede OSH é composta por profissionais em saúde e segurança do trabalho, especialistas da área acadêmica, pesquisadores, representantes dos trabalhadores, empregadores e governos de diversos países do mundo.
Apontado como uma das consequências do aquecimento global, o calor excessivo foi destacado pelo grupo como um problema global com implicações na saúde ocupacional e com potencial para causar sérios impactos na produtividade e na saúde dos trabalhadores.
Atividades a céu aberto oferecem mais riscos
Atividades desenvolvidas na construção civil e na agricultura foram apontadas pelo grupo como as mais suscetíveis ao problema. O superintendente regional do Trabalho e Emprego no Ceará, Carlos Pimentel de Matos Junior, presente nas discussões da Rede OSH em Fortaleza, ressalta a importância de se discutir sobre a saúde do trabalhador no que se refere especialmente ao estresse térmico, principalmente nesses segmentos. “Essa é uma pauta importantíssima, especialmente para nós aqui no Ceará que temos apenas um clima, que é o calor excessivo. Temos visto, principalmente na construção civil, iniciativas que fazem muito a diferença para o trabalhador, como vestimentas mais leves, disponibilização de protetores solares e cobertas com material térmico nos canteiros de obra. É importante a gente ver as experiências dos outros países, como eles têm tratado essa temática e a gente vê que o Brasil não está longe das melhores práticas que ocorrem no mundo todo”, acrescenta.
De acordo com Daniel Bitencourt, pesquisador da Fundacentro, o calor pode trazer doenças graves a médio e longo prazo e é preciso que sejam desenvolvidas medidas urgentes para proteger os trabalhadores. “O problema é antigo e isso não é diferente no Brasil. Esta é uma temática que está bastante visada por conta do que temos visto em termos de ondas de calor no Brasil, que tem sido cada vez mais frequentes, mais intensas e duradouras e isso tem implicado em riscos bastante altos para o trabalhador. Profissionais com atividade moderada e pesada implicam numa taxa metabólica maior, o que pode ocasionar uma sobrecarga térmica no corpo, portanto, este é um fator que agrava mais ainda a exposição ocupacional a altas temperaturas”, pontua.
Para o responsável pelo serviço de fiscalização do trabalho e ambiente no trabalho na Organização Internacional do Trabalho – OIT em Genebra, Joaquim Nunes, a discussão acerca do tema na Rede OSH pode influenciar políticas que são desenvolvidas em outros países, levando a avanços na melhoria das condições de trabalho global. “Esse debate tem uma importância fundamental, primeiro porque essa Rede representa o Grupo de países do G20 que são países de economias importantes, para que estes possam repercutir essa mensagem e influenciar as políticas públicas em todas as regiões do mundo, sempre com o objetivo de promover a segurança e a saúde de todos os trabalhadores, sem exceção, em todos os setores, em todas as profissões”, ressalta.
OIT reconhece desafios
Nunes, acrescenta que apesar dos investimentos de alguns países nos cuidados com a saúde e segurança do trabalhador, os desafios ainda são grandes: “infelizmente temos uma situação em que trabalhadores de muitas partes do mundo, inclusive no Brasil, continuam expostos ao que chamamos de riscos predestinais. Existem trabalhadores que morrem por quedas em altura, soterramentos em minas. Nós temos também aquilo que chamamos “a emergência dos novos riscos”, relacionados por exemplo, com teletrabalho e questões ergonômicas que tem consequências para a saúde do trabalhador a longo prazo”, adverte.
Impactos do calor extremo sobre a saúde
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição ao calor excessivo pode causar desidratação, insolação, e o agravamento de condições de saúde como doenças respiratórias, cardíacas, renais e outras doenças crônicas, impactando também sobre a saúde mental.
Rede OSH
Estabelecida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Rede OSH (Occupational Safety and Health) tem por objetivo promover a conscientização sobre questões ligadas à segurança e saúde no trabalho globalmente, auxiliando na formulação de políticas eficazes para proteger os trabalhadores em seus locais de trabalho. O Rede se reúne de forma presencial uma vez ao ano, podendo os encontros acontecerem em paralelo ao G20.