Ciência

Uece terá pesquisa sobre uso de canabidiol em pessoas com autismo financiada pelo Ministério da Saúde

Na foto, os pesquisadores da Uece responsáveis pela pesquisa, professores Valter Filho, Cidianna Nascimento, Gislei Frota, Carla Brandão e Paulo Sávio Magalhães

A Universidade Estadual do Ceará (Uece) teve proposta de pesquisa selecionada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para financiamento por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia, da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde, do Ministério da Saúde (Decit/SECTICS/MS). O projeto escolhido tem como objetivo mapear as evidências existentes na literatura acerca da eficácia, tolerabilidade e efetividade do Canabidiol (CBD) como tratamento para crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A pesquisa é de grande relevância, considerando o aumento de diagnósticos de TEA no mundo, bem como a urgência de fornecer uma análise abrangente, imparcial e baseada em evidências sobre a segurança, eficácia e efetividade do CBD nesse tratamento, sendo ainda mais crucial diante do aumento na procura por tratamentos alternativos por parte de pais, cuidadores e profissionais de saúde, bem como das políticas de flexibilização do acesso a essa substância em muitas jurisdições.

De acordo com o coordenador da pesquisa, vinculado ao Instituto de Ciências Biomédicas da Uece (ISCB), professor Gislei Frota, o método científico a ser utilizado será uma revisão sistemática com metanálise, em que é feita a seleção criteriosa de estudos relevantes realizados pelo mundo e, ao considerar os melhores estudos clínicos, seus resultados serão avaliados.

O processo para o desenvolvimento do projeto já foi iniciado, tendo previsão para resultados em dezembro de 2024. Além da pesquisa, atividades de divulgação também estão previstas, sendo realizadas em duas fases. A primeira, de julho a dezembro de 2024, levando às escolas, postos de saúde e outros espaços no Ceará, palestra com vistas à conscientização do uso de canabidiol sem evidências científicas no TEA. A segunda fase acontecerá de janeiro a julho de 2025, em que as palestras terão como objetivo a divulgação dos resultados da pesquisa a ser desenvolvida.

“Fomos selecionados como a terceira proposta mais bem avaliada do Brasil. Somente nós, em todo o País, desenvolveremos tal pesquisa. Nosso trabalho é único e de grande relevância para o Ministério da Saúde. Hoje o assunto é polêmico, extrapolou a esfera da ciência e há muita desinformação sobre o assunto. Assim, o MS reconhece a importância da pesquisa porque, através dos resultados, serão geradas evidências se o canabidiol pode ou não ser usado no TEA”, explica o coordenador, Gislei Frota.

O professor revela que, a depender dos resultados da investigação, eles nortearão a geração de políticas públicas para aplicação do canabidiol para o TEA por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). “O objetivo é gerar evidências para a aplicabilidade no SUS, para que a partir dessas informações, o SUS possa tomar decisões acerca desse uso”, ressalta o pesquisador.

Os recursos financeiros oriundos do MS serão aplicados em softwares, programas estatísticos, assistência técnica, consultorias etc. A equipe é formada pelos pesquisadores da Uece, Gislei Frota Aragão, Carla Barbosa Brandão, Valter Cordeiro Barbosa Filho, Paulo Sávio Fontenele Magalhães e Cidianna Emanuelly Melo do Nascimento; e pela pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Kelly Rose Tavares Neves.

Ainda, em paralelo à pesquisa financiada, está sendo desenvolvida uma pesquisa sobre o perfil do paciente TEA que utiliza o canabidiol mesmo sem evidências científicas: como o paciente percebe o CBD como agente terapêutico, como e quanto ele utiliza, o que sente, onde consegue e outras informações. Espera-se que os resultados sejam divulgados também em dezembro, junto às descobertas da pesquisa principal.

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